quinta-feira, 11 de junho de 2015

Tô na cruz

Cristo foi bandido
Desses que é bom morto.
Andava com a gente mais torta
Cagava na ordem social
E nas regras religiosas da época.
Transformou água em vinho
E sem ter onde encostar a cabeça
Multiplicou pães e peixes
Para que não houvesse fome,
Nem sede, nem gente infeliz.
Mesmo assim, em nome da lei,
Sacerdotes e até parte do povo quis:
- Crucifica-o!
Se eu fosse cristã
Não acumularia tantos bens
Sofreria com quem mais sofre
Amaria as pessoas que menos têm
Direitos e expectativas
Não seria cristã de cruz e morte
Seria cristã de vida
Arriscando a mudança
Ao invés de esperar passiva
A herança do céu.
Se eu fosse cristã
Cega diante da cruz,
Teria de ser um homem transtornado.
Mas eu sou só trans.
E a nítida preferência de Cristo por mim
Faz espumar ira da boca dos santos.
São juízes tantos de minha conduta
Que sou bicho, sou puta
Menos humana...
Por mais que seja uma sentença insana
Eis o mais cristão que os cristãos conseguem ser.
Se eu fosse cristã
[dessas que não são erradas]
Não seria crucificada.
Mas eu tô na cruz
E vou (r)existir.

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