"O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração" Vladmir Mayakovsky
O poeta russo que aos 15 anos ingressou na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo foi um homem de grandes paixões, lírico, épico e satírico. Em 1930 'suicidou-se' com um tiro - acredita-se num suicídio forjado por motivos políticos.
Em sua obra, Mayakovsky empregou linguagens do dia a dia, em um estilo Cubo-futurismo e transracional. Sua poesia comove por ser de uma sensibilidade imensurável e pela sua forma de enxergar o amor e o mundo:
"Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha".
O Amor é um dos poemas mais belos do Mayakosvsky - uma mensagem de esperança no mundo, e no amor - como se este fosse uma mulher-fênix. E porque não também fala da mulher, de sua condição de mulher, de seu ressucitar...
Caetano, que não é besta, conhecendo a obra deste poeta tão entregue, musicou O Amor para Gal Costa cantar. O resultado é esta música belíssima que eu deixo aqui para que você também possa, assim como eu, refletir e se emocionar.
O Amor
Gal Costa
Composição: Caetano Veloso (baseado em poema de Vladimir Maiakovski)
TalvezQuem sabe
Um diaPor uma alameda
Do zoológicoEla também chegará
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda
Que mais não seja
Porque sou poetaE ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando
Contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais
Existam amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém maisTenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco
Ressuscita-mePara que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra
4 comentários:
belissima escolha...
e esta grvação da gal é muito boa.
existe uma versao mais recente na voz de renato braz. se ainda nao conhece, conheça. é de arrepiar.
abraçao do
roberto.
Conheço sim a versão do Renato Braz - a partir dela é que busquei mais do Mayakovsky. É indescritível a experiência de ouvir O Amor.
Obrigada pela visita e pela dica.
Abraço da Macabéa
A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.
Maiakovsky
urna
tu
amor
que corrói-me
a língua sem saber do sabor
da vida
destrói-me
a irromper nervos e inflama
como raízes e ramos
de uma árvore seca em cãibra
a estender seus tentáculos estranhos e deixa-me à míngua
cancro de minhas entranhas
que me domina
tu
a(r)
dor
sempre presente
desconforta-me
em teias e arcanos
a tua ronda
pressente e brota abrupta
e cresce serena à sombra
rubra podre e bruta
cancro de minhas entranhas
que me domina
tu
amor
que rompe-me
o tempo severo ostra ávida
ferida em crosta de larva
à véspera curva da língua
corpo ácido que sangra
como pedra áspera intriga
a lágrima pura e precisa
cancro de minhas entranhas
que me domina
sob
um relógio
tedioso e suculento
os ossos dormem nos umbr
ais do temp(l)o
à espera desesperada
das horas que me consomem
- o que contemplo agora ?
um poeta embriagado
que se extermina
pelas pálpebras
pelo ventre
pela língua !?
cancro de minhas entranhas
que me domina
na urna
onde minha vida
será revolvida
em breve estará em sopro
escrito:
- o meu grito -
" aqui jaz um sonho
de amor - vivido intensamente -
que se perdeu nos vãos do tempo.“
www.escarceunario.blogspot.com
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