segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Colheita


A., sem pressa, colhe o que é teu: Tua dor. Não te enganes com os frutos deste cultivo: Eles não apodrecem e caem. Só você pode tomá-los, e dar-lhes o seu devido lugar dentro dos compartimentos de sua existência. Estes frutos - como diz - malditos: não são jogados fora - De forma alguma! Pertencem à você. Saiba onde guardá-los - sem angústia. Deixe-os num lugar claro e limpo, Onde possas vê-los bem.
És louco, poeta? Me perguntas. Ao passo que te respondo: Se engana quem esconde de si os benefícios da dor:

Não há ferida que não se cure,
E não há alegria que perdure
Sem conhecer o dissabor.

Com isto, espero que entendas: Teu fruto não é maior, nem mais amargo. Nem mais pesado, nem mais difícil: São os teus olhos e tua balança que determinam a equivalência do fruto. Basta que semeies e cultives outros pomares, e os frutos diversos saboreie. Afinal, não queres, e nem vais, perder tudo o que cultivaste por causa de um só pomar. Que espécie de agricultora é você?

Nós somos a terra.
Nossa terra não vem pronta:
Aramos, adubamos...
Preparamo-nos a vida inteira para o plantio.
Semeamos, regamos e colhemos.
Quando o pomar deu o que tinha de dar,
Recomeçamos.
Eu sei, é um trabalho árduo!
Que seja.
Todo início é precedido de um fim
Todo fim implica um recomeço.
E ao final das contas, a gente sempre sobrevive
Da colheita.

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