sexta-feira, 12 de junho de 2015

Água morna

Água morna
Onde encontrá-la?
Para imergir meu corpo
E sossegar minha alma?
Água morna,
Não há como mergulhar em ti
Sem passar pelo vento gelado
Do medo do salto.
O grito vem do alto
E manda fugir.
Saltar é perigoso.
Por vezes, letal.
E o amor, uma submersão subversiva
Tão perigosa quanto vital.

Até chegar a hora

Mesmo sem cavar detalhes na memória
Não sentir esse vazio que incomoda
É impossível.
Não há razão
Nem continência:
Cachoeiras.
Ainda que bebendo com a solidão
E fumando dor mesquinha,
Sair rasgando o peito não é pra qualquer uma.
Seguir em frente não quer dizer que deixei de lado
Mas que levo comigo
Ora como abrigo,
Ora como fardo.
Até que uma hora
Qualquer hora, quando for a hora
Minha melhor hora vai chegar.
A gente ri, finge e chora
Até jogar fora o que não dá pra levar.

Importância

Com o quê você se importa?
Se a toalha da mesa está torta?
Se tá faltando um pedaço?
- Faz favor abrir espaço?!
- Disponha!
Se ponha num lugar que não é o seu.
Me acuse de não ser você e ser tão eu.
Ainda que pense e pese
Ser mais a gente do que tão nós
Que seja laço
E não o nó
Do que não é falado mais do que sentido.
Que seja laço e não indiferença.
E o que vale para além da presença
Estar ou ser tão só?
Amor não vira pó.
Se a gente se importa,
arromba a porta:
- Você vai me ouvir!
Quem é mais sentimental que eu?
Como é que as coisas se ajeitam por si?
Para além do não sei, o sim.
Deixa ser.
Fica aqui.
Eu me importo.

A tinta

Versos
Telas
Formas
Pêlos...

É possível lermos.

E na leitura que eu faço,
Todo esse movimento só pode ser poesia
Contemporaneamente concebida
Com nossos corpos suados

Não fique preso no poema

Se as palavras te encantam,
Deixe que o olho brilhe,
Que o verbo reverbere
E que valha a alegria e a pena,
Mas não!
Não fique preso no poema:
Ele pode ter ponto final.
E ainda assim não ter fim...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Muita

Eu tiro o cabelo
O batom e a roupa
E o que mais eu quiser.
Fico nua
E me visto de lua
Meu peito é sol
E meus olhos, estrelas!
- Não faça isso!
- Não seja assim!
- Não tem medo da fogueira?
Eles dizem...
Mas o único imperativo que me interessa
Bate no meu peito,
No centro da terra
E no sonho da humanidade:
Que haja liberdade
Muita
Para todas as pessoas!
Para que a vida não seja, assim,
Tão cheia de coisas
E se torne coisa pouca.

Encantamento

O verão quente de tua boca
É que nem sol de meio dia
Arde que nem lua cheia da gota serena.
Você me irradia e incendeia
Qualquer razão que eu tenha.
No misto de tanta euforia
Transpirar de prazer
É encontrar calmaria.
Será isso feitiço?
Por certo é bruxaria?
No fim de tudo o que me resta
saber de teu encanto, é:
Que você é tão poesia
Quanto em seus braços
Me sou tão mulher.

Tô na cruz

Cristo foi bandido
Desses que é bom morto.
Andava com a gente mais torta
Cagava na ordem social
E nas regras religiosas da época.
Transformou água em vinho
E sem ter onde encostar a cabeça
Multiplicou pães e peixes
Para que não houvesse fome,
Nem sede, nem gente infeliz.
Mesmo assim, em nome da lei,
Sacerdotes e até parte do povo quis:
- Crucifica-o!
Se eu fosse cristã
Não acumularia tantos bens
Sofreria com quem mais sofre
Amaria as pessoas que menos têm
Direitos e expectativas
Não seria cristã de cruz e morte
Seria cristã de vida
Arriscando a mudança
Ao invés de esperar passiva
A herança do céu.
Se eu fosse cristã
Cega diante da cruz,
Teria de ser um homem transtornado.
Mas eu sou só trans.
E a nítida preferência de Cristo por mim
Faz espumar ira da boca dos santos.
São juízes tantos de minha conduta
Que sou bicho, sou puta
Menos humana...
Por mais que seja uma sentença insana
Eis o mais cristão que os cristãos conseguem ser.
Se eu fosse cristã
[dessas que não são erradas]
Não seria crucificada.
Mas eu tô na cruz
E vou (r)existir.

Notícia do dia

Hoje eu atrasei por motivo de choro.
O mundo que estupra, espanca e mata
Não para para o nosso luto.
Então, a gente, com lágrima e tudo
Transforma substantivo masculino em feminino
E conjuga: LUTAR!
Para que o medo não seja nossa sombra.
Por nenhuma de nós a menos.
Seguiremos

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Dia do índio

Mim não entender
Porque associar erro de português formal
Com o jeito de falar do indígena nacional.
Ora! Este não tem a língua portuguesa como natural...
Mim achar confuso, pejorativo e imbecil.
- Fala de um estrangeiro alemão
Sobre o dia do índio no Brasil.