sábado, 19 de abril de 2014

Quadrilha da morte

João que matou Teresa -
Porque desconfiava de traição -
Foi morto por Raimundo,
Em vingança à morte da irmã.
Confuso e transtornado, aproveitou o embalo,
E numa noite escura e fria,
Raimundo matou Maria
Que perambulava pelas ruas -
Drogada e prostituída -
Largada após a copa do mundo.
Teve seu corpo estirado ao lado do de Joaquim - por acaso -
Preto, pobre e favelado,
Apanhador de carteiras,
Que havia sido torturado até não lhe restar um sopro mais
Por um grupo de "cidadãos da paz".
Para Joaquim e Maria não houve perícia: os corpos ali eram dois gastos a menos das políticas do governo.
O pai de João, procurando por justiça,
Pagou caro à polícia pra fazer perseguição.
Acharam Raimundo no "quinto dos inferno" às 6h da manhã.
Foi tiro! Pow! Grito. Bala achada e bala perdida
Que atingiu, inclusive, Lili que tava indo pra faculdade e queria ser bailarina
E que não tinha entrado na história ainda - só por uma questão de tempo.
Restando apenas o pai de João,
Guardado o seu nome em sigilo,
Para manter a ordem limpa da chacina:
Bandido bom é bandido sem vida.
Aliás, vida é coisa difícil de se promover.
Quem vale viver?
Preferível é estar do lado de quem decide.
- Mais fácil é matar o problema,
Diz a indústria das armas, o discurso da meritocracia e o fazedor de medo, a mídia,
Que alimentam o homem bom:
É mais normal que se faça esta quadrilha de morte,
Ao invés da de Drummond.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

V i n t e e n o v e

Te dei 29 beijos.
Mas 29 vezes eu falhei.
Porque nos 29 sorrisos que me deu,
29 vezes eu acordei.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Cotidiano



Hoje, ainda hoje, quando me olho
Vejo um abismo cavado pela dor da ausência
Que enfia a mão no meu peito
E leva à boca da saudade
pedaços de mim mastigados
pelos dentes das horas
que não tenho ao seu lado.

Minha vida segue, então,
baseada em dois pequenos poemas:
Eu e você.

Cabe o mundo em cada um.
O universo entre nós.
E um tempo que flutua -
Sucessão de sóis e luas -
Enquanto não desatamos os nós.

Entre mundos



Este mundo...
Drummond disse vasto
E ainda que digam que tá gasto
e que não vale a minha poesia, meu suor,
minha lágrima, minha luta e a minha utopia,
Neste mundo há você!
Então que seja neste mundo que façamos o outro.
O nosso.
Que valha mais a fé, a paz, o amor e o  encanto.
Que não fique pra tanto depois.
Que este mundo um dia seja o mundo
que mereça nós dois.

Como disse Rosa

Não é igual o que não parte
de igual esperança.
Não há vida sem cor, sem som, sem dança.
Não há revolução pela metade.
Não há mulher que tenha nascido
pronta para esta condição:
exploração, violação, submissão...
Não há como negar a opressão -
ainda que o capital patriarcal faça tanta maquiagem.
Bombas explodem: não há como ser 8 sem ser 80 -
todos os dias do ano e não só em março.
É preciso vigilar, dar as mãos para seguir na viagem.
Se queremos rumar à liberdade,
feminismo é coisa de prioridade,
Reconhecer da mulher espaço, vez, voz e vontade.
Porque é como diz Rosa:
Ser de esquerda e não ser feminista,
necessita de profundidade.

Libertária

Com batom e sem:
Beleza na carne crua.
Poesia, lata e luta,
É bruta, é flor, rua e palanque também.
Vamos, mulher! Vamos além!
Nada de defina, te condene ou oprima
Eu aborto, tu aborta.
Não podemos, clandestinas.
Somos nossas. Regras nossas.
Eis o nosso refrão:
Pode vir mídia, moral,
Marido, cafetão...
Eu, feminista,
Libertária da lógica machista
Não abro mão da revolução.

Não tô!

Aos (des)aprendentes do amor:
Ninguém ensina nada a ninguém.
Favor, bater em outra tecla.
E em outra porta também.

Beauvoir

Hey, mulher, eu te conheço!
Seu sorriso - que não teve fome
Tem uma dor tão igual a minha...
Posso até não saber escrever teu nome.
Mas, hey, mulher, eu te conheço!
Sem nunca ter te visto,
Te dedico, te mereço.
Nasci pronta pra te descobrir
E entender que não nasci, me tornei.

Hey, mulher, eu te conheço!
Simone,
Maria,
Joana,
Luzia...
Tempo e lugar.
milhares. mulheres.
Feministas.
Beauvoir!

A paisagem inteira

Um grão de areia,
Um raio de sol,
Uma gota do mar,
Eu não quero.
Não quero o que vale a pena.
É pouco.
Quero o pássaro todo,
Quero o que vale a vida,
A paisagem inteira.

Loteria

Sabe o amor?
Se for comparado a ganhar milhões numa loteria,
é sorte grande pra alguns. Isso. Para alguns mesmo. Não nos esqueçamos dos infortunados, aqueles que amam sozinhos!
Estes investem tudo que ganham sem obter algum retorno e
[de burros ou coitados] continuam a insistir até que gastam todo o amor.
Como loterias, amor não vem fácil e não vai fácil.
[Aposta e admite]
Ainda assim, quem amou, uma vez esgotado,
joga as trouxas nas costas e sai por aí desnorteado esperando a sorte e pensando onde vai gastar
da próxima vez em que for sorteado.
Sim. Diferente de loteria, se ama mais de uma vez na vida.
Eis que o amor é, então, a sina e o crédito
[sem limites]
dos (des)graçados que o acreditam.

O circo

Eu quis fugir com o circo.
Uns sete anos, eu tinha.
Queria ser palhaço
Pra sorrir mesmo triste.
Bailarina de dançar sem música,
contorcionista para ser desdobrável
Feito papel de poema.
Eu dava pra ser equilibrista
pra pendurar palavras na linha,
Saltar no ar...
Eu podia cuspir fogo,
Chover flores,
E cores, ser mil.
Ah, eu quis mesmo ir com o circo.
Não fui.
Mar era destino,
Era coisa que tinha de ser.
Vinte e poucos, eu tenho.
Sem surpresa, eu vejo
Que sorrio, danço, desdobro
[leia-se: sem nenhum traquejo!]:
O circo veio comigo.

Goiás Velho

Um céu que anoitece pensando em amanhecer.
Ruas de cachoeiras.
Pedras que respiram, falam e cheiram.
Um rio limpo no meio da cidade.
Pouco carro. Gente simples. Cachaça no mercado.
Uma ponte. Sino de igreja.
Bolo de arroz da Inês.
Pequi. Coreto. Chafariz.
Janelas que dão pra rua.
Chamado para ser feliz.
Na poesia que és, existe um tanto de paz.
Tão singela e bonita, velha Goiás!

Nua

Nua
porque o sol brilha e dá o tom
da flor, da pele, do pêlo, do suor e do sabor.
Nua
porque o vento descobre os caminhos do arrepio,
do cio, do cheiro, do vício e o calor.
Nua
porque é banho de mar, é banho de luz, de lua,
de liberdade sabida, sentida, labutada dia a dia:
contra o medo, o preconceito, os padrões e os segredos.
Nua
porque não tem vergonha do sexo ou coisas estúpidas do tipo...

Cura

Uma bicicleta vermelha me atravessou:

Para gripe, pra verme,
fastio ou cansaço
Tristeza ou mormaço
E falta de amor.
Era o que gritava
O senhor que passava
E salvava o mundo:
- Olha o LAMBE-DOR!

MarCela

Tem gente que tem o mar nos olhos
Tem gente que tem o mar no nome E tem gente que não desiste de aMAR
Aos que não desistem: os dias, os sóis, as luas, os sorrisos, os abraços sinceros, as estradas, as gentes, banhos de utopia. Ainda sobre o mar, o poeta certa vez disse:
É preciso ajuda para olhar.
E eu não duvido:
Não cabe num coração só
aMAR tão infinito.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Cabôco

Doido, doido …
Eu só fui uma vez,
Mas fiquei bom.
Tô tomando remédio.
Quando eu pesco
Volto sem nenhum pra casa
Se tem gente com fome,
Distribuo tudo no caminho.
Eu pranto feijão,
Cultivo fror sem espinho,
Eu falo alto e errado.
Vez por outra perco o caminho.
Beber, eu não bebo.
Deixei.
O que me der pra fazer eu faço.
Sou pau de dar em doido.
Doido é que duvida.
Tem quem conte minhas histórias,
Mas/mais doido é quem acredita.

terça-feira, 18 de março de 2014

Desarmamento


Eu vejo ódio
Sem disfarce.
Eu vejo alvo
Em toda direção.
A metralhadora escolhe cor,
Sexo,
Idade,
Classe social,
Religião.
Mas nome... Tem?
Cláudia,
José,
João,
Maria,
Quem?

Eu vejo gente maltratada, humilhada,
Arrastada, encarcerada, torturada.
E é sempre o mesmo ‘tipo’ de gente:
Gente que não tem direito a nada!

Quem estará salvo?
[da vida]
Quem quer comer da comida que o diabo amassou?
Aos que querem marchar pela família,
Aos que querem a volta da milícia,
Quem morreu? Quem matou?

Nas manchetes de jornal,
É a vida ou é um show?
[de terrorismo].
Onde o egoísmo tem sobrenome
[Liberalismo].
Nas terras do capital,
Se leva peia, sim, senhor!
Que liberdade é essa
De sufocar o amor?

Nas manchetes de jornal,
Conspirações e achismos.
Discurso programado.
E eu não sinto a outra dor.
Exclamo: que horror!
E me ligo na novela,
No futebol,
No reality show.
E a vida segue.
De manchete em manchete,
A gente vai levando...
[Pra onde o sistema leva a gente?]

Quando eu grito os palavrões:
Desmilitarização,
Democratização,
Despatriarcalização,
Justiça social,
Sei que não aparecerão no jornal.

Desarmemos nosso ódio (in)consciente,
A polícia, a direita, a escravidão do sistema
E os idiotas que levantam a bandeira do pavor,
Para que possamos nos armar – em toda parte -
Do amor
[capaz de curar esse mundo cruel e demente]

Porque viver neste mundo, assim, indelevelmente
É coisa que não dá pra levar!
Façamos barulho, minha gente!
Não podemos descansar!

Morena

Escreve,morena, escreve!
Derrete o gelo do inferno,
Ganha a lua de presente,
Mantem os olhos tão ardentes
Quanto o desejo de teu corpo
Que arde de unir-verso.
Não haja cerca que te prenda,
Nem corrente que não rompa
Com a sinestesia de tua presença
Misteriosa
E tão plena
De uma paz que não é paz
Mas que me é necessária
Porque é,
Porque sou,
Porque nós.
É, morena!
Escreva pra eu ter notícias suas.
Só de saber me sinto bem.
Quero o seu bem,
Sua poesia,
E carregar você nos versos
Que posso levar na vida.

sexta-feira, 14 de março de 2014

POESIATODODIA

Hoje, não por acaso, depois de um ano sumida, volto a quixotear por aqui. Abaixo, uns poucos poemas que consegui salvar entre guardanapos, folhas soltas, cartas e postagens no facebook.
Dia da poesia é todo dia. Fato. Porque a poesia está no abrir dos olhos, nas cores do dia, nos cheiros de alegria, nos braços da saudade, no som, na melodia, no choro de quem sofre, na revolução que se acredita, no sol que não adormece dentro da gente, na escuridão, no brilho da luz, tá no corpo, na alma, na voz, no silêncio do banco da praça, no bar, com gosto de cerveja, na flor preferida, na lucidez e na fantasia, no desejo que se deseja, no beijo de quem beija e na não desistência do amor e da utopia.
As palavras são mãos que tateiam a poesia - escrita, falada, sentida - que possam massagear a esperança de ser e estar na vida.

POESIATODODIA


O meu pássaro azul (Conversando com o velho Buka)

Há um pássaro azul em meu peito que vê:Mentiras e vaidades.
Teus mimos e agrados, pra quê?
É a minha própria fumça que trago.
Foi assim que disse o velho safado e bandido.
Na composição dos meus versos sozinhos,
só a cerveja, o cigarro, a poesia e o meu pássaro azul fazem sentido.
Ah, o meu pássaro azul...
Não é à toa que está comigo.
Suas asas até podem voar,
Mas ele insiste em ficar
Na bagunça das coisas que não joguei fora,
No meio de tudo que não tem lugar.
Meu pássaro azul canta baixinho.
É quando eu percebo que ele é o único que nunca vai embora -
Se espremendo entre palavras e lágrimas -
Sem testemunhas.
Ficar seguro talvez seja mais dolorido.
Então digo pra ele: - vai, danado!
Mas ele é esperto demais e diz: - só vou contigo!
Sabe que sou demasiadamente covarde
Para dizer o que sinto.
eu que me sinto velha
De tão cansada dos foras da vida, minto:
- ele que não quer sair!
Compactuamos, então, os dois, do mesmo medo.
Somos tolos demais para chorar.
Mas isso é segredo.

Pra quê serve?

Para que serve o poema?
Que desenvolvimento ele traz?
O que ele produz de concreto, de fato?
NADA!
O poema não serve!
Como não servem os índios,
Como não servem os sem-terra,
Como não servem os homens e mulheres do campo,
Como não servem as mal-comidas,
Como não servem os artistas de rua...
Estes que não servem,
Que não servem para o lucro...
Que bom que não servem.

Me são necessários!

A novidade

O ano é novo.
Não é novo o esgoto estourado da Lagoa do Mato.
A pobreza de Maria que tem 7 filhos e cria dois netos
Também não é nova.
Novo era o Wellington, negro favelado, quando a polícia o matou.
Mas nova não era a morte pingada todos os dias das surras que levava
Da mãe prostituta, do pai alcoólatra, dos colegas da escola
Que tinham o que ele não tinha...
O sistema é bruto e diz a meritocracia “gente de bem” que: “era ruim porque queria”.
Os ônibus não são novos – assim como a falta deles na cidade. Como falta escola, saneamento, assistência e trabalho.
As sebosas ‘cantadas’ de rua e minha cara de abuso, os estupros, a violência doméstica, a diferenciação salarial, os direitos negados... São coisas de todo dia.
A novidade é que mais pessoas se indignem
Com o esgoto estourado, com a pobreza que não é sua, com o racismo,
Com a falta de política pública de gestões indigestas
Com a sociedade patriarcal e com a o sistema neoliberal que matam.
Que a novidade seja a vida, luta e esperança
No dia em que não o ano será novo, mas, o mundo.

Sermão da maldição

Malditas sejam todas aquelas que não se dão ao respeito, mas ao prazer, ao gozo e ao orgasmo.
Malditas macheiras atrevidas que fazem "coisas de homem" - e fazem muito bem.
Malditas leitoras de Beauvoir, Kollontai e Nísia Floresta que se acreditam iguais.
Malditas são as que marcham por quererem-se livres e às outras, e aos outros.
Malditas as mulheres que não se calam porque seus gritos ecoam justiça!
Malditas feministas! Malditas! Malditas sejam!
Malditas feministas! Malditas!
Que continuem malditas nas bocas dos que pensam que a barba ou a piroca são o poder.

Das flores que quero ganhar

Eu que sou flor feminista,
Quero da flor da igualdade -
esta que eu busco tão incansavelmente.
Quero a flor da liberdade
quebrando correntes de corpos e mentes.
Quero a flor da justiça
àquelas que sangram de dor.
Quero a flor da história
sendo escrita com minhas mãos.
Quero a flor da revolução
dançando no passo da utopia.
Quero e tanto quero a flor do amor
que não diz o que preciso fazer.
Quero a flor da paz
Sorrindo na janela de meus olhos -
quando enfim poderei dizer:
Não precisas colher flores,
o jardim está pronto para que TODAS e TODOS
possamos viver.

Você tem fome de quê?

Assim, assim como você
Assim, assim como nós
Assim, assim como eles
Assim, assim como elas
Tanto assim como assado
Faça sua digestão.

Pussy

de rocha
de erva
de areia
e de sal.
Tem gosto de cana.
Quer chuva, quer cama.
Quem sabe?
Quem tem que saber?
Marginal,
Pilantra.
Sou eu, sou você, somos nós.
Poder.
Entre as palavras,
pensamentos
e pernas.
As ruas,
os muros,
os becos,
o mundo...
é todo delas!

Perguntas de uma mulher que lê

Por que meu primo brinca de bola na rua
E eu brinco de boneca dentro de casa?
Por que as princesas são sempre mulheres brancas
Que precisam ser salvas pelos seus príncipes encantados?
Quantos nomes de mulheres construindo
Ou destruindo coisas
Aparecem nos livros oficias das histórias?
E das escolas?
Quando os homens estavam erguendo muralhas, palácios, exércitos
Onde estavam as mulheres?
Por que as mulheres são naturalmente dóceis, sensíveis, delicadas
E tem o papel de zelar pelo equilíbrio da família e do mundo?
Será?
Por que as mulheres são cozinheiras, enfermeiras e costureiras
Enquanto os homens são chefes de cozinhas, médicos e estilistas famosos?
É feio mesmo mulher falar de SEXO
E fazer SEXO com quem quer aonde quer?
Mulher tem que se dar ao respeito
E qual respeito que se dá?
Como a mulher aparece na TV, nos propagandas de cerveja, nos outdoors?
A culpa do estupro, é de quem?
E o aborto, quem é contra?
Aliás, QUEM PAGA A CONTA DO ABORTO?
Desde quando existe a prostituição?
Pra quê ela serve?
Para o silêncio, a condição submissa ou menor,
Para o massacre histórico do gênero.
Responde, quem é a favor da prostituição:
A mulher da rua, o cliente ou o cafetão?
O lucro sobre o trabalho, o corpo e a vida das mulheres,
Esta é a lógica do patriarcado
Desde a primeira educação à divisão
Entre as santas e as putas.
Nós, nós queremos ser livres sem qualquer condição.
Vos falo do embate
Entre manter ou não as coisas como estão
O patriarcado e o mercado querem a prostituição
As mulheres não
O machismo e o neoliberalismo querem a prostituição
As mulheres, revolução!

Coisa de saudade

Hoje eu quis encaixar
Minha esperança, meu amor
e todo o meu v e r s o
no teu abraço.
Onde estão teus braços?
Olhei pros meus, aqui.
Os teus braços, não vi.
Calei.
A lágrima caiu.
Entendi.
Saudade é coisa de braços vazios.

Feito sol

Quando acordo de madruga
E não consigo dormir mais
Me encolho em mim mesma
feito feto.
Peço pra nascer de novo
feito sol que vai despontar.
Peço para ter amor,
Peço para saber amar.

A ilha

O sono é sob o teto das estrelas
E não se passa fome, nem frio.
Mas se dorme sem portas,
E se vê o nascer do sol sem janelas.
As flores, de todas as cores, não morrem nunca
E os perfumes acordam os sentidos dos sonhos.
As pessoas são todas diferentes
E ainda assim, por isso mesmo,
Os corações se conhecem e se amam mutuamente:
Porque sabem do mar, mar, fé, fé
E têm nos olhos o brilho da justiça
Fraterna e livre.
A terra é mãe que dá e recebe.
Os filhos e filhas da terra
também são do ar, do fogo, das águas
E não seguem padrões de ser.
Os seres - de todas as espécies - vivem em paz.
Há quem more em utopia.
Dizem que são loucos e que podem voar.

Sobre protagonismo das mulheres e a boa vontade dos homens na luta contra o machismo (ou simplesmente aquilo que a gente sonha em ouvir)


Vai, mulher!
Vai à frente.
Eu tô no teu caminho.
Vai com as tuas,
Somos teus,
Somos nós!
Se tem teu riso, teu grito e tua força:
Sei que não ando sozinho.
Outros passarão.
Você, passarinho
Tão madura quanto uma fruta podre.
Tão podre quanto os podres poderes de suas palavras.
Palavras que machucam, cheias de veneno.
Veneno que só tem quem não deseja um mundo bom pra si tanto quanto para os outros.
Outros que você não sabe amar.
Amor é livre compromisso que transforma.
Transforme sua arrogância e sua desesperança porque a vida é dança que pode ser feia ou bonita
Dependendo de como você vê o mundo além do seu umbigo.
É possível!
Outro mundo é possível!

Intensamente

Sinto frio
Porque as palavras não me ardem mais...
Não me ardem seus beijos.
E o amor que havia,
Não sei aonde andará!

Quero cobrir-me de desejo.
E aquecer meu corpo esquecido.
Quero acrodar sem ter dormido.
Mas nunca amar sem ter amado
E nem viver sem ter vivido.

Quero encontrar o meu espírito exaurido
De colocar amor onde não há espaço.
Percorrer caminhos desconhecidos.
Mas nunca amar ser ter vivido
E nem viver sem ter amado.

Prefiro morrer todos os dias
A viver desacreditado...

A bruta flor do amor

Não é todo mundo que entende
de ficar descalço
e amar quem tá de pé no chão.
a bruta flor do amor rompe cercas!
Que seja cuidada a flor do altruísmo
porque é semente que o vento de utopia
há de espalhar em cada coração.
Assim seja a canção
cantada por nossas irmãs e irmãos!
Assim seja a vida:
cultivada de mãos dadas!
Pois é certo que não vale nada
ter os pés calçados de conforto
E o corpo vazio de nossa alma.
Ainda que não compreenda,
Amar e amar me basta.

Alpinista

Com tuas mãos escalando meus montes de dores -
mais do que com cachaça -
molha
minha
malha
e acha graça
porque não digo não.
Ainda que não acabem com minha solidão -
Como universos que cabem em meus versos -
tortos
torpes
turvos
Tuas mãos de alpinista só me deixam a poesia
de minhas mãos feito bandeja
Te entregando estas linhas
de quem só deseja
chegas aos destinos de horizontes infinitos:
que sejam sempre mais livres e cada vez mais bonitos.