segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Monte Castelo - O Amor por Renato Russo


Em breve, Monte Castelo: Fragmentos das histórias de quatro jovens que possuem como trilha sonora de seus momentos as músicas-poesias do Legião Urbana.  A montagem é ambientada nos tempos atuais e em lugares-comuns, e tem a trama costurada pela música baseada no livro bíblico Coríntios 13, 1-13 e O amor de Luís de Camões.

Monte Castelo - A música

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Senhora

Eu sou dona de mim.
De tudo que eu sou.
De cada célula de mim.
Eu me governo.

E não estou disposta
Ao teu gosto ser subjugada:
Em pele cordeirinha,
Sou loba criada.

Sou a banca de frutas
Sou a fruta mais fresca
Ao freguês mais exigente
A que agrada aos olhos.

Porque sou a mãe que chora
A criança desnutrida
A bailarina exaurida
Dentro de mim.

Sou à flor da pele:
Grito, xingo e peço perdão.
Eu faço e me desfaço!
A chave, o cadeado e o portão.

Senhora de mim,
Dona de nada, me possuo: Corpo
                                          Alma
                                          Coração.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Impressão



Te escrever em mim

Com palavras, suor e saliva
É imprimir o verbo amar
Com tua língua
É avisar ao corpo
Que a alma transpira.
É avisar à alma
Que o corpo transcende.
É aliviar o corpo.
É presentear alma que suspira.
É saborear teus reversos.
É adoçar a vida.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Meu Sol


Se todos te vissem
Como eu te vejo
De olhos fechados
Enxergariam
Que a tua beleza
É ainda maior que a certeza
De um novo dia surgindo

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Leonina


Ela é Leonina
Ela é tão menina
Que mulher feroz...

Ela pinta os olhos
Ela brilha a boca
Ela impõe a voz!

Dentro de si a beleza
a força, o calor, a realeza
Do astro rei, o Sol.

Eu faço a prece mais bonita
Que por toda a sua vida
Não lhe falte a coragem de um leão.

E que o sorriso mais brando
Das coisas simples, o encanto
Amanse e adoce o seu coração.

Porque ela é leonina,
é minha amiga, desde menina,
minha irmã.
Porque és leonina,
és minha amiga, desde menina,
minha irmã.

#Parabéns, Reny! Amo você, minha amiga!

domingo, 14 de agosto de 2011

Pais e filhos


Aos pais ausentes
o presente
da lembrança
que balança
a nossa rede...
Somos, independente da condição no mundo,
de corpo, alma e amor,
destes,
para sempre
Sementes.

#Feliz dia dos pais

Todo coração - O AMOR Mayakovsky

"O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração" Vladmir Mayakovsky



Vladimir Mayakovsky - 1893-1930

O poeta russo que aos 15 anos ingressou na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo foi um homem de grandes paixões, lírico, épico e satírico. Em 1930 'suicidou-se' com um tiro - acredita-se num suicídio forjado por motivos políticos. 
Em sua obra, Mayakovsky empregou linguagens do dia a dia, em um estilo Cubo-futurismo e transracional. Sua poesia comove por ser de uma sensibilidade imensurável e pela sua forma de enxergar o amor e o mundo:
  
"Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha".

O Amor é um dos poemas mais belos do Mayakosvsky - uma mensagem de esperança no mundo, e no amor - como se este fosse uma mulher-fênix. E porque não também fala da mulher, de sua condição de mulher, de seu ressucitar...
Caetano, que não é besta, conhecendo a obra deste poeta tão entregue, musicou O Amor para Gal Costa cantar. O resultado é esta música belíssima que eu deixo aqui para que você também possa, assim como eu, refletir e se emocionar.

O Amor
Gal Costa
Composição: Caetano Veloso (baseado em poema de Vladimir Maiakovski)
Talvez
Quem sabe
Um dia
Por uma alameda
Do zoológico
Ela também chegará
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda
Que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando
Contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais
Existam amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais
Tenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra

CONVITE - Chá das flores


Queridos amigos, leitores, visitantes, quero convidá-l@s para uma festa poética:

O Flores e Flechas - http://floreseflechas.blogspot.com/ - blog da JEMIMA - uma poetisa de alma delicada e sensibilíssima - completará 3 anos no dia 29 de Agosto deste ano. Para comemorar, desejo a participação de todos nessa festa! Para participar do chá das flores, são dois os desafios:

1- Todos deverão presentear alguém com uma flor. Pode ser alguém da família, cônjuge, namorado(a), amigo(a) ou até algum desconhecido que passar na rua. Presenteie e, com um gesto simples, alegre o dia de alguém. No dia 29, deixe seu comentário contando a sua experiência! Se conseguirem tirar foto, compartilhem!
2- Todos que quiserem entrar na festa deverão escrever um poema com o nome de uma flor. Pode ser um poema pequenino, simples ou rebuscado. Fique à vontade, esse jardim também é seu. Já podem começar a pensar em algo. Eu vou publicar todos os poemas no Flores e Flechas. Pode virar até publicação em livro... Por que não...

Conheçam o jardim da Jemima: http://floreseflechas.blogspot.com/

A Macabéa vai participar (já sinto o cheiro das flores)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Flor de lótus





Que a delicadeza não morra em meio
aos prédios, ao tédio desta vida sem freio.
Que ela possa crescer em nosso peito,
posto que tem a força de tocar os corações
que perto, tão perto estão, se olharmos direito.

Sem a delicadeza de uma palavra,
de meia-palavra, daquilo que não é dito,
De que adianta ter vivido, e pela vida não ter passado
Suspirado e morrido?

Que delicado seja o olhar lançado
na mesma medida - compaixão sentida
para dentro e fora de nós.

Que surja da lama profunda
Como a mais bela Flor de lótus.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Paradoxo


Quando eu ficar velha
É que terei em mim a verdadeira beleza:
A pele flácida e meus seios caídos.

Todo meu corpo será tatuado da vida que vivi.
Então poderão, enfim, admirar-se de mim.

Minhas pernas não terão a força de antes;
Meus apelos não serão mais os mesmos;
Meus joelhos cansados serão demais doloridos.

Não se interessarão pelo o que posso fazer
Mas se houver interesse será pelo o que eu sou.

Quando o viço da juventude se for
É que não terei para ninguém tanta serventia:
É que finalmente serei. Poesia.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Brega trash com Zéu Britto



Neste final de semana fui ao show Saliva-me do Zéu Britto em Natal. E lá, eu alcancei a compreensão de como o AMOR é BREGA - nas suas carências, dependências, saudades e declarações; e TRASH - nas suas perdas, desilusões, ciúmes, separações...
Tá, não é um cd que eu vou baixar pra escutar em casa - acho que não faz muito meu estilo, ou faz?! - Mas o cara, Zéu, é um show à parte: irreverência em pessoa. O show foi hilário e super interativo. Passei a encarar o AMOR por ângulos nunca dantes imaginados.
O Brega trash do Zéu faz a gente sair do comum, e isso é bom, porque nos brincar com a nossa condição e causa de amar.

Vida de casal - Zéu Britto

Somos peças de um sushi,
Peças de um jogo atrevido,
Te como crua,
Vem me comer cozido,
No mundo animal,
Ninguém é de ninguém
Mas depois do jantar
Eu quero ser de alguém
A dieta ideal
É comer bem e mal
É ter vida de casal
Você é mosca na coxinha
Sou a azeitona na empada
Fale e coma
Não fique entalada
Nós somos croquetes,
Qualquer um pode comer
Nós somos baguetes,
Espremidos no prazer
A dieta ideal
É comer bem e mal
É ter vida de casal


sábado, 6 de agosto de 2011

Maria



Tua mão apedrejamento
Teu ciúme asfixia
Tuas palavras xingamento
Eu, melancolia

Teus gritos
Meu silêncio
Tuas juras
Meu medo

Teus beijos espancamento
Amor de covardia
Você, José-sem-lamento
Eu, da Penha, Maria

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Volúpia


Tenho horas de ser fogo:
arder e queimar até o fim!

Tenho horas de ser flores:
bálsamo e veludo.

Tenho horas de me consumir e desabrochar
Sem horas e sem dores.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sinal da Cruiz na capital


Passano in frente a Catredal
Eu paro e sem pressa faço prece
- Óia o matuto!
Demoro no sinal da cruiz
O moço que passa do lado ri
Pruquê num consegue vê Jesuis

Êta moço chei de riqueza
Tem carro e relógio caro
Mas eu sendo muito franco
Acho ele um pobre coitado
Pois vejo a sua alma tão carente
Sem ter as alegria que tem a gente

Suas nuve são cor de cinza
Equanto meu céu é azul
Onde voa a asa branca
voa também os urubu
É que se convive em paz
todos os homi e os animais

Minha comida num tem veneno
Na minha mesa sempre cabe mais um
O ar que respiro é mais puro
A vida que eu levo é comum
E de noite a lua grandona vem espiá
Nossa canturia e nosso prosiá

O que me deixa incabulado é sabê
Como é que o home consegue vivê
Engaiolado no pulêro que ele escoieu
Num dá conta que a vida se perdeu
E que é ele escravo do dinheiro
Prisioneiro de tudo que é seu

Eu que num imagino acordá
Sem ouvir os parrarin cantá
Nas árvores de meu quintal
E nem perder o alaranjá do pôr do sol
Que os homi da cidade só vê em foto
De Tv, revista e jornal.

Me chamam de matuto, abestado
Num sou letrado, mas de intrometido
Falo que nem home sabido:
- Ocês que num me leve a mal
Eu mermo é que num vejo vantagi nehuma
De vivê nessa capital

 

Amantes



Acordar com teu cheiro suado
Impregnado em minha pele
O teu corpo enroscado ao meu
A pedir que o tempo releve

Pena o dia ter que começar
Ainda que a noite perdure
Depois que o sol desponta
'Eterno enquanto dure'

Com gosto de beijos-café quente
E croissant-desejos de outra noite errante
O corpo anseia o encontro ardente
Noite afora, nós dois, devotados amantes

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Somos tão jovens...


O tempo passa e me sinto cada vez mais vivo:
Meus sonhos continuam pulsando em minhas veias!
Lavo o rosto e vejo no espelho rugas de amor.
Concluo que tenho em mim o que é preciso para ser jovem:
Meus sonhos são sonhos de mudar o mundo!
Pois somente quando já não sonhamos, é que ficamos velhos...
Eu? Tenho todo o tempo do mundo.

Eu sou um sonhador!


É difícil viver de sonhos, primeiro porque é difícil deixá-los viver. Sim. Os sonhos muitas vezes não sobrevivem à dureza do imperativo "ter que fazer".

Quando somos crianças, nos obrigam a acreditar em papai noel para pouco depois descobrirmos que não, ele não existe, e daí acreditarmos que sonhos não têm fundamento. Nos obrigam a acreditar em bicho-papão para nos assustar, e qual não é nossa surpresa de um dia enxergar o mundo a nossa volta e saber da violência, e que pessoas morrem de fome, de frio, de falta de amor? Nos aprisionam em mentiras para nos esconder da realidade da qual realmente pertencemos e que podemos/devemos mudar. Mas o pior, pior mesmo é quando nos fazem acreditar que por sermos crianças não podemos querer, porque não sabemos o que desejar, e que devemos almejar o que querem pra gente: o melhor. É exetamente aí que matam nossa capacidade de sonhar. Porque o melhor sempre é ganhar mais dinheiro, ter mais poder.

Sonhar - não há tempo para isto. O certo é trabalharmos o dia todo, chegarmos cansados, assistirmos tv e dormir. Dormir um sono bem leve e preocupado, sem tempo para devaneios, afinal de contas, o outro dia virá com mais e mais trabalho, e temos de estar preparados. No tempo 'livre' temos de estar ocupados: Ficar deitado sem fazer nada e pensar; ler um livro, ou um blog de poesia e literatura e pensar; olhar o movimento da rua e pensar - NEM PENSAR!!! Temos que fazer cálculos, planejamentos, gráficos... Sermos matemáticos e administrativos. Temos de cuidar da aparência, da beleza e esconder nosso teto de vidro. A vida está sempre atrasada, tem pressa e deve simplesmente seguir. Mas para onde? Para quê? Por quê? É difícil nadar contra a corrente e dizer: - EU SOU UM SONHADOR! E do outro lado alguém me grita: - Há contas a pagar! MAS EU PRECISO, PRECISO SONHAR!
Vivemos em um mundo opressor. Ou escolhemos ser livres e assumimos a condição essencial da vida que é sonhar ou somos reprodutores estéreis de um cárcere capitalista sufocador.

P.S.: Não venha me dizer: -"tá, isso tudo que você falou é lindo, mas não funciona..." Ao que eu responderei: - "Conhece felicidade? Ela não vem de carro ou carruagem. Tá dentro da gente, e é a gente quem faz!"

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Insônia



O que me encanta na noite
São as janelas abertas
Os vagalumes acesos
E as pessoas despertas

As janelas-olhos que espiam o mundo de fora
E ouvidos que sussurram pensamentos
São cortinas que mandam notícias
Trazidas a contragosto pelo vento

Vagalumes são os que vagueiam
E pousam em nossas noites frias
São candeeiros que alumiam
Ser – tão – adentro.

E somente as pessoas despertas
Abrem as janelas pra fazer companhia à solidão
E enxergam um ponto de luz na escureza
Felizes por nenhuma certeza - do clarão do dia, iminente.