domingo, 31 de julho de 2011

Poesia-passarinho

Foto: Antonio Pinto


Poesia guardada
é passarinho engaiolado:
não voa e
não cumpre a missão
de (en)cantar!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Perito - em construção


A crueldade humana é como necrotério
Em cada gaveta está um sentimento 'morrido',
por fome de amor e sede de humildade matado,
por ausência do olhar solidário ao reflexo desconhecido.

Por que campos o homem terá andado
para contrair tão infestioso vírus?
Cada dia mais humanos são desumanizados
Cada dia, do calor de um sorriso franco, destituídos.

Não se sabe para onde vão os 'corpos' liberados
para dar lugar aos novos 'empodrecidos'.
Por trás de cada assassinato ou suicído,
Corações perturbados, roubados da paz do paraíso.

Agora estão separadamente em formol convervados
os sonhos, a tolerância e o altruísmo.
Neste mundo não há condição mais fétida e sofrível
Do que ser de cadáveres ambulantes, um perito.

Indigestão

No quarto vazio,
nas noites de chuva
e na multidão.

Meu esconderijo
calabouço de tortura
e prisão.

Em meio a nada,
És tu, tudo o que me resta,
Ó indigesta solidão.

Campos


Tenho ideias de porteira sem cerca:
Posso parecer estreita, mas trago em mim a
infinitude!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Que na vida a gente dança...


O vento balança a roupa estendida
O cabelo da menina distraída
A pipa do menino que corre e não cansa

O relógio segue seu compasso – sem perder o tempo:
Dos namorados que se beijam na praça
Dos velhinhos que divagam na lembrança

A luta, a lida, o trabalho e o suor
Deixar-se sentir alegria e dor
E girar como o mundo a girar

Gira o mundo como a gente quer, gira!
Movido por paixão, ira e temperança.
Assim se faz o balé da vida – que na vida a gente dança.

A-mar


Tenho pressa de contar nuvens no céu de março
Em pleno azul de dezembro.
Pressa de ser nuvem antes de a chuva cair.

Tenho pressa de cantarolar coisa alguma
De ser o canto das cigarras
Pressa de ouvir o que o silêncio me fala.

Tenho pressa de não me apressar
De não deixar a cama e o lençol
Pressa de dormir e acordar o sol

Tenho pressa de perder de vista o barco navegar.
De navegar mares sem ondas
Pressa de a-mar.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Retrato


Só você não percebe
Nos meus olhos, a ira
Por teu olhar desatento
Por te inventar mentiras

Só você não vê
Que meu sorriso tão farto
Anda escondendo os dentes
Sem graça e ingrato

Só você não acredita
Que nos caminhos desando
Que sou a mulher falida
Da música triste que canto

Não sou mais a moça bonita
Que está naquele retrato
Sou a poesia que grita
Por amor que não seja cobrado

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Fica Comigo esta noite - Filme

É filme brasileiro (com muito orgulho), de 2006 (antigo - eu sei), mas eu precisava postar aqui: Primeiro porque o filme é lindo e poético; segundo, por ser este tipo de Cinema é que realmente representa nosso país! Os últimos filmes brasileiros que tenho assistido não passam de cópias do estilo 'besteirol americano' - Não precisamos disso! Deixem o besteirol para os norte-americanos. Para a nossa Latino-América - nossa literatura, nossa luta e nossos sonhos!

Dirigido por João Falcão (que eu adoro), o filme Fica comigo esta noite conta a história de Edu (Vladimir Brichta) e Laura (Alinne Moraes) se conheceram ainda jovens. Apaixonados, decidiram se casar e, anos mais tarde, passaram a viver uma crise no casamento. Em meio às turbulências no relacionamento Edu, repentinamente, morre. Decidido a se despedir de Laura de qualquer forma, Edu passa a buscar um meio de se comunicar com ela. Só que o único ser que podia ajudá-lo era o fantasma do coração de pedra (Gustavo Falcão), uma assombração experiente que detesta a companhia de outras pessoas.

#O clipe do filme e a letra da música



Fica comigo esta noite - Nelson Gonçalves

Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.
Lá fora o frio é um açoite;
Calor aqui tu terás.

Terás meus beijos de amor,
Minhas carícias terás;
Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.

Quero em teus braços, querida,
Adormecer e sonhar;
Esquecer que nos deixamos
Sem nos querermos deixar...

Tu ouvirás o que eu digo;
Eu ouvirei o que dizes.
Fica comigo esta noite
E então seremos felizes.

S.


A noite, és rainha!
Acordada, és meu carrasco.
O meu café te vicia,
Ou será que me devoras?

Insiste quando eu choro,
Quando imploro que vá embora.
Sua presença minha vida estende,
Meu copo de bebida barata se demora.

És minha constante inconsciente,
A tua onipresença me apavora.
Os teus braços me prendem
Ou sou eu quem te aprisiono?

Diga-me se as sete letras que te conceitua
Um dia me deixarão em paz...
Se tu é o que ficas quando alguém se vai,
O que queres dizer com Nunca mais?!

E não te arrependerás...


Meio-fio
Meio arriscado
Andava desolado
Se sentia tão perdido
Dela não era mais namorado

Entre os carros, atropelado.
Arrebentado, arrependido.
No chão corpo estendido,
De coração partido
Ele partia.

Sem coração, sem vida
Do sono, ele acordou
Só o medo de partir
Sem a despedida
Lhe despertou

Ia acampar em frente à janela dela
E suplicar de joelhos seu perdão
Mas todos os planos que fizera
Foram esmagados
Na contramão

Há quem diga
Que o rosto do moço
Estava de sangue estampado
- Meu amor, me espere, eu vou!
Dizia um buquê de flores pra longe jogado

Não precisava toda aquela sangria
Nem precisava tanto correr
Se fosse dito no dia-a-dia
O que é preciso dizer:
Eu te amo!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mulher-vinho


Eu digo que és vício vencido
E repito este dito noite adentro
Bebo um pouco do teu vinho
E continuo sedento

Eu digo que estou distraído
Quando estou embebido:
Em teu riso mergulhado
Afogado em teu veneno

Eu digo que não me envolve
Com teu perfume e tuas manhas
Tomo mais um gole de desejo
És do fogo: a lenha e a chama.

Eu digo que não te procuro,
Num (des)encontro, te acho
No brilho fulminante
Da taça de teus olhos escuros

Eu digo, redigo e me flagro
Refém do meu discurso falido
Cedo a todos os teus caprichos
De teu encanto embriagado

Te querer sem ser querido
E te adorar em pensamento
Me torna ainda mais possuído
Por teu viço roxeado e encorpado

És mulher-vinho
Por tua liquidez sou tomado

Nunca mais - Engenheiros Hawaii

Ultimamente tenho tido saudades de escutar Engenheiros do Hawaii... E é impossível não lembrar dessa música:

Nunca mais

Não é o que se pode chamar de uma história original

Mas não importa: é a vida real!
Acordar de madrugada vindo de outro planeta
Sentir-se só;
Uma criança num berço de ouro
E a ferrugem ao seu redor
Os muros da cidade falavam alto demais
Coisas que ela não podia mudar nem suportar
Ela quis voltar para casa
Cansou da violência que ninguém mais via
Viu milhões de fotografias e achou todas iguais

Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Nunca mais!!!

Ofereci abrigo, um lugar para ficar
Ela me olhou como se soubesse desde o início
Que eu também não era dali
E quando sorriu ficou ainda mais bonita
Tinha a força de quem sabe que a hora certa vai chegar
Lágrimas no sorriso, mãe e filha, chuva e sol
Segredos que não podia guardar, e não conseguia contar

Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Nunca mais!!!

Ainda ando pelas mesmas ruas
A cidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora eu sei que a vida não é um jogo de palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
O que será que ela quis dizer?
5 letras, começando com a letra 'A'!

Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Nunca mais quero te ver chorar!!!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A casa de Concita



O relógio grande e redondo compassa cada segundo
Bate quatro e meia da madrugada
O galo cantador quem anuncia o novo dia
Nem chegado o sol, já está preparada

De um lado para o outro do quarto andas
Fazendo suas orações, fervorosamente, a pedir
Que cada hora do dia seja abençoada
Que veja os teus ao seu redor a sorrir

No fogão esquenta a água do primeiro bule de café
Passa então pela mesa da cozinha e ajeita a toalha rendada
O vaso de biscoito com as flores de plástico espalhadas
E uma fruteira com banana, goiaba e manga bem-servida

Endireita a foto do artista ao lado do calendário ultrapassado
Na mesma parede que admira a face da figura materna falecida
Beija todas as imagens de São Francisco, Padim Ciço,
Acende velas para Virgem Imaculada e Nossa Senhora Aparecida

Um rádio antigo ligado pra ouvir os ditos de um locutor bem sabido
Um cheiro de alfazema de coisas que se perderam no tempo
Não troco por nenhum templo modernoso enriquecido
A casa decorada de saudade: viver é também reviver tudo que foi vivido.

Viajante


A carroça do mundo

Carrega um segredo
De roda-viver e estrada-morrer
De amor e de medo.

O carroceiro é quem atravessa
Rios e pontes sem perceber
Que o amor-roda o leva à vida
E o medo-estrada o faz morrer

Só quem sabe o que leva no peito
É capaz de compreender o instante
Que o tempo que passa é roda e estrada
E que na vida, somos todos viajantes.

domingo, 10 de julho de 2011

Estória de amor (ir)real



À Macabéa:

- Mais bela de todas as mulheres,

A novidade de tua estrela me trouxe à vida!
Teu Quixote acordado, teu espírito envivecido,
Fez-me de ti, teu escravo.
Por teu sorriso fui vencido.

Tua clareza me cegou
Enxergo agora tudo límpido
Em cada rosto o teu rosto,
[Mas não confundo-te!]
Só teu olhar alumia este louco varrido.
Rogo que me tenhas apreço,
Que tua doçura adoce meu semblante
Pois nada que uma palavra tua não transforme
Esta triste figura, este aprendiz errante,
No cavaleiro mais nobre deste mundo inconstante.

Dragões ou moinhos de vento
Hei de enfrentar bravamente
Resistirei e retornarei utópico-fortalecido
Se a mim for concebido o presente
De ser teu cavaleiro – me deixa te amar para sempre?


Ao Cavaleiro:

Chegaste e trouxeste contigo
O sol para minha noite sem fim
Teu ofício de cavaleiro nobre,
[Eu sei, não existe!]
Porém, livraste-me do esquecimento ao olhar para mim.

Não sei que beleza enxergaste
Nesta alma 'esperante' e
Na minha figura-tão-triste-assim
Só sei que as flores desabrocham
E tuas palavras perfumam meu jardim

Por isto, Cavaleiro, não me digas mais nada!
Já estou, por demais, convencida:
Se é sonho não quero acordar,
Pois só serei feliz nesta vida
Se em teu amor galopar.

Assim respondo ao teu pedido:

- Em teu cavalo de utopia, venha me buscar, Cavaleiro!
Minha hora só há de chegar
Minha estrela só há de brilhar
Se teu amor me for eterno e inteiro.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Reflexões amorosas...


De mãos dadas com um desconhecido íntimo
Percebi que a solidão é a saudade de quem caminha ao meu lado.

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Chega de amor-desculpa
amor-rotina-decadente
Quero amor-fogo-gasolina
Meu amor, amor, é amor-urgente!

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Quando alguém desiste de lutar
é que não se tem espírito vencedor
ou não se tem vontade de ganhar.

Amor

Eu não quero flores,
quero perfume,
primavera.

Eu não quero lua e estrelas,
quero o brilho delas,
o céu.

O que eu quero não tem verso,
nem rima, nem tamanho e cor.
O que eu quero tem nome,
Cheiro e sabor.

Chamam de insesatez,
loucura e tolice.
Eu chamo AMOR.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Aventuras Fantásticas Calvinêscas - Parte I

Minha amiga Jemima do http://floreseflechas.blogspot.com/ (que eu super recomendo) iniciou uma Jornada Literária (na qual se dedicitará ao hábito da leitura  e compartilhará seus encamentos literários com os leitores de seu blog. Pois bem, ela me fez repensar  minha condição de leitora - resolvi também iniciar uma aventura destas... 

Numa vida corrida a gente muitas vezes deixa de se presentear com  coisas que gostamos de fazer devido ao tempo. Por esta razão, me darei de presente o tempo - Ainda não jogarei tudo pro alto, ainda... - Mas me darei um tempo para me dedicar à coisa que tanto me dá prazer: leitura.

Não que não faça minhas leituras dentro dos ônibus, antes de dormir, aos domingos pela manhã... Mas é que essas brechas de tempo não me dão a satisfação de mergulhar na história que me é contada. Então eu disse a mim mesma: - 'Quer saber? Vamos (eu e eu mesma) organizar esse tempo! Por que deixar em segundo plano algo que me faz tão feliz? A vida é só uma, e ler é uma das formas mais saborosas de viver. Vamos à leitura!'

Aí veio a pergunta que não queria calar: quem, o que ler? 


Estava eu na casa de um amigo quando ele me (re)apresentou ao Ítalo Calvino - que eu já conhecia de ouvir falar, acho que já tinha lido um de seus contos, e visto a adaptação de um de seus livros num espetáculo de teatro -  mas nunca tinha me dado conta do quanto sua obra é fantástica (literalmente) e isso me fascinou. Foi amor à segunda vista quando meu amigo leu para mim: O homem que era honesto  da obra 'Um general na biblioteca' (IC) - que resumidamente eu conto aqui - a história de um país em que todos eram ladrões:

À noite, cada habitante saía, com a gazua e a lanterna, e ia arrombar a casa do vizinho. Voltava de madrugada, carregado, e encontrava a sua casa roubada. E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um roubava do outro, e este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro.

E assim o país prosperava, e tudo seguia normalmente até que apareceu um sujeito honesto, e a crise se instaurou: foi preciso fazê-lo compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era essa uma boa razão para não deixar os outros fazerem. Cada noite que ele passava em casa era uma família que não comia no dia seguinte.

Convencido, passou a sair de sua casa (deixando-se roubar), mas nem por isso passou a agir. E causou, então, um grave desequilíbrio na renda nacional, uma vez que os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos que os outros, e passaram a não querer mais roubar. E além disso, os que vinham roubar a casa do homem honesto sempre a encontravam vazia; assim iam ficando mais pobres.

Os mais ricos passaram a pagar aos mais pobres para roubarem em seu lugar, e pegaram os ainda mais pobres que os pobres ainda para defender seu patrimônio contra os menos pobres. E assim criaram o salário, a polícia e as prisões.

Ao final, já não se falava mais em roubar ou não roubar, mas em ricos e pobres. O honesto, coitado, já tinha morrido de fome há muito tempo...

Com água na boca do pensamento estou devorando o que encontro deste autor - descobridor do fantástico no real: que  foi um dos mais importantes escritores italianos do século XX. Nascido em Cuba, de pais italianos, sua família retornou à Itália logo após seu nascimento. Formado em Letras, participou da resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial e foi membro do Partido Comunista Italiano.

'Um General na biblioteca' - contos; 'O cavaleiro inexistente', 'O visconde partido ao meio' e 'O barão nas árvores' - trilogia romance fantástico - são minhas prioridades no momento.
Começarei as leitura hoje, e em breve postarei minhas Aventuras Fantásticas Calvinêscas!
É essa menina que me sinto hoje:



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Despedaçada

 
Se doença, qual o remédio que cura?
Se morte, qual o consolo que acalma?
Qual a palavra que fere ou mata?
Que pode adoçar a amagura?

Que sorte terá toda a sorte que tem
Se não nos restar nada?

Verdade, respeito e gratidão
Na mesma balança, bem medida e bem pesada.
Sair com lucro é sair com vida:
Se fores, eu flor!
Dessa paixão despedaçada.

Coração Valente

O meu coração andarilho tem calos
De quem andou caminhos espinhosos.
Bate porque tem que bater,
mas como está cansado...

De andar sobre o solo rachado
E de se alimentar das migalhas que dão...
Bate porque tem que bater
Raquítico coração
 
Quando encontrará lugar seguro
E  repouso reconfortante?
Bate porque tem que bater
Este coração retirante

Não foge da condição de amar
Por onde passa joga semente
Coração agricultor de gente
"- Flor do amor, hás de vingar e nascer!"

Êta coração teimoso,
Combatente resistente,
Antes de tudo, um forte
Meu Coração Valente

É como se diz na canção
Ainda que bata só por bater
Um legítimo bravo coração
Desiste nem na hora de morrer