quinta-feira, 12 de março de 2015

Quando passa das dez

Quando passa das dez
Você volta pra casa
Abre a porta
E vê que tudo é nada.
E nada é tudo que você tem.
Você procura a mãe,
o gato, o irmão... Alguém?
Você procura por você
Em nome de quem?
Já é tão tarde
E tantas noites ainda virão.
Você mora de favor.
Você só quer amor
mas também precisa de pão.
Teu ofício, teu vício,
Tua poesia não vale um tostão.
Enquanto os teus pertences
São uns livros que você nem lê mais,
tá sempre correndo pra dar conta
De pagar a conta da cerveja barata
Que amortece de paz e alivia o cansaço.
Trabalhadora não é feita de aço.
São dias difíceis para se problematizar
Quando você não tem o controle do carro,
As chaves do portão.
Os papeis estão todos espalhados.
Se morrer hoje onde teu nome estará escrito?
Sem a luta ninguém deixa legado.
Há quem deixe herança:
Ouros, ilhas, países...
Existem países que há séculos só fomentam a guerra.
Quantas guerras ainda existirão?
Contra a guerra a gente é flor ou canhão?
Em meio aos tiros
A gente vai ao chão.
E num delírio lembra de fazer uma oração:
Se amanhã eu acordar viva,
Me dê mais água do que sede,
Mais fome que comida,
Mais esperança que saída,
Mais pecado que salvação.
Porque saciada é quem não vive a contradição
Dos quereres e não teres
Da loucura que é ter razão.
A graça é, assim, clarear a visão
E acender a fé
Para enfrentar a escuridão de lá...
... Dos dias que não conhecemos
E que não sabemos alcançar.

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