segunda-feira, 6 de abril de 2015

Você não sabe me escrever!


Você não sabe me escrever, poeta!
Esta é bem a verdade.
Romance industrial burguês
Só alimenta a tua vaidade
E eu digo logo de uma vez:
Minha moral sexual não cabe
Na estrutura patriarcal de vocês!

Não fale de mim, poeta!
Se não sabe o que faz,
Atenção para o alerta:
Não sou Marília de Dirceu
Amélia ou Isaura.
E sou.
Sou Nísia Floresta, Frida, Dandara.

Poeta, meu caro, por favor me leve a mal!
Mas não me use pra vender
Seu livro ou seu jornal.
O meu corpo e a minha vida,
Quero longe dessa falsa liberdade liberal.

Entenda, poeta, poetinha...
A mudança do mundo passa pelas minhas mãos
Quando sou eu quem escrevo minha história
e de minhas irmãs.
Passa pela minha mente e coração
Quando me livro do padrão e sou quem desejo ser.
Passa pelas minhas pernas, prazer!
O amor e a sexualidade que quero viver.
Passa pela minha decisão:
Ser mãe ou não ser, direito individual.
Passa pelo meu trabalho dividido com você por igual.

Se não sabe me escrever assim,
Não verse sobre mim.
Virtude bonita é a tal da humildade.
Das alegrias e dores,
Da luta árdua diária, eu sei.
Mulher tem a beleza da poesia
Com a força revolucionária.

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